Site Autárquico de Alcoutim

Navegar é Preciso… O Silêncio das Marés

(de barco)

Embarque numa viagem rio abaixo ou rio acima.

Na vila de Alcoutim pode encontrar ofertas de passeios de barco no Guadiana, com a empresa Fun River ou com o Hotel d’ Alcoutim. Reserve o seu passeio por uma das rotas oferecidas ou peça um roteiro mais personalizado. As opções são várias, desde a passagem a Sanlúcar de Guadiana, a passeios de 15 e 20 minutos, até passeios de meio-dia ou dia inteiro com almoço incluído em alguma povoação ribeirinha, sendo que existe sempre a possibilidade de complementar a viagem em barco com o transporte em carro ou carrinha.

Ao sair da vila de Alcoutim, junto ao cais velho da vila e à muralha do século XVII por baixo da Igreja Matriz pare e pense sobre os vários elementos que pode observar. Neste local vai encontrar um marco com quilómetro 0 daquela que foi a principal via de acesso ao interior do concelho. Convém recordar que durante muitas décadas do passado o Guadiana foi a grande autoestrada do Sul, e as mercadorias, correio e passageiros chegavam a este rio ou através de barcos, ou em sentido contrário por essa via, utilizada por almocreves que traziam os produtos dos campos, feiras e mercados da serra Algarvia. Continue a observar à sua volta e veja a enorme parede branca junto ao cais velho, um troço da muralha do século XVII, e tente imaginar uma vila totalmente amuralhada como foi no passado. Ainda salientam dois pontos curiosos, o primeiro deles a guarita de côr cinzenta da Guarda-fiscal, uma réplica da verdadeira que esteve no mesmo local até os finais dos anos 80. Aqui controlava-se a fronteira fluvial fechada durante todo o período das ditaduras ibéricas e prolongando-se esse encerramento até à entrada na Comunidade Económica Europeia, agora união Europeia. Descobrir e reprimir o contrabando e outras transgressões fiscais eram obrigações dos guardas que por aqui patrulhavam. Algumas individualidades podiam de quando em vez passar ao outro ou a este lado, como o padre, o médico ou o presidente da Câmara. Os populares esses poderiam talvez passar uma vez ao ano quando haviam festas, mas sempre com a passagem de um salvo-conduto. O último pormenor, antes de descer ao cais e entrar no barco, poderá encontrá-lo na estátua do contrabandista virada de costas para o Rio e para Sanlúcar de Guadiana. Acha que este contrabandista está a entrar ou a sair com a carga? Pois é ele está a passar o rio para Espanha, levando possivelmente uma carga de café! Muitas vezes para enganar a guarda, ele sabendo que as suas pisadas poderiam ficar marcadas no lodo da margem, entrava na água do rio caminhando para trás.

O contrabando e a Guarda-fiscal vão ser sempre temas de abordagem ao longo do seu passeio rio acima e ri abaixo. Abrigo Segundo, Alcaçarinho, Enxoval, Grandacinha, Guerreiros, Laranjeiras, Lourinhã, Pontal, Premedeiros e Vascão são alguns dos locais que poderá ver desde o rio, onde estavam localizados os antigos postos da guarda que controlavam as atividades de fronteira e em especial o Contrabando. No lado espanhol vai encontrar também o mesmo tipo de edifícios que pertenciam aos Carabineiros. Atualmente alguns ainda estão em ruina, outros foram adquiridos e hoje são moradias particulares de pessoas e famílias que se sentem atraídas bela rara beleza desta região. Originários de vários pontos do globo, aqui encontramos nas duas margens do rio uma comunidade estrangeira, de indivíduos que quiseram mudar os seus estilos de vida e vir viver no campo: engenheiros nucleares, guionistas de Hollywood, produtores de grandes bandas de música conhecidas, artistas plásticos, que imprimem um tom multicultural ao território, fazendo já parte das comunidades locais.

avifauna também é um pretexto para disfrutar deste passeio pelo rio, sendo que ao longo do trajecto que realize poderá observar espécies como o estorninho-malhado, pega azul, alfaiate, abelharuco, o guarda-rios ou martim-pescador, a cegonha branca, ou a garça imperial. Com alguma sorte ainda poderá avistar alguma águia-de-bonelli, a águia cobreira, a cegonha-preta, a águia-real e o bufo-real.

Ao nível das espécies piscícolas existem aqui no rio e nas ribeiras a Boga-do-guadiana e o Barbo-de-cabeça-pequena, e algumas das espécies que consoante a época do ano poderá encontrar à mesa nos restaurantes do concelho como as enguias, que pode provar fritas ou em ensopado, a lampreia, cozinhada em cabidela, ou o peixe muge, elemento essencial das caldeiradas locais e sopas de peixe. No museu do rio, em Guerreiros do Rio, pode ficar a conhecer as artes tradicionais da pesca no Guadiana, as principais embarcações e ainda visionar vídeos sobre os mesmos temas e sobre o contrabando.

Rio acima vai encontrar pontos de grande beleza natural, como a rocha da livraria, formação rochosa que faz lembrar as estantes de uma biblioteca. Mais ou menos à mesma latitude do rio vai deparar-se na margem espanhola com os muros do antigo porto de minério do Puerto de La Laja. Imagine a actividade de transporte de minério rio abaixo em décadas nos séculos passados, um pouco mais a Norte, já na região do Alentejo encontra-se também o porto da aldeia do Pomarão, onde era descarregado o minério que vinha das Minas de São Domingos, em Mértola. Com o encerramento das minas em 1966, perdeu-se parte do dinamismo comercial no Guadiana.

No caso de entrar um pouco dentro da ribeira do Vascão ou da Ribeira Grande de Sanlúcar de Guadiana poderá ter a sorte de avistar alguma lontra, mamífero cada vez menos visível por não gostar da presença humana.

Para acabar o passeio regressando a Alcoutim, repare na quantidade de canaviais junto às margens do rio. A cana e o trabalho em torno dela sempre foram importantes para as comunidades ribeirinhas, Alcoutim, Sanlúcar de Guadiana, Foz de Odeleite (Castro Marim). Aqui, antes de se começar a utilizar o plástico para tudo, chegavam compradores desde toda costa portuguesa e espanhola, até grandes lavradores do Norte de Portugal, da Catalunha ou do Sul de França a comprar cestos para a apanha da fruta ou utensílios em cana para a pesca.

No final do seu passeio poderá sempre por pedir uma paragem na vila de Sanlúcar de Guadiana, a irmã gémea de Alcoutim, e realizar um pequeno passeio pelas suas ruas com casario branco andaluz, ver as suas estátuas do cesteiro, junto ao Ayuntamiento e do dançador da festa religiosa consagrada à sua padroeira, Nossa senhora de La Rabida, junto à Igreja de Las Flores. Se ainda tiver vontade de surpreender-se suba aos moinhos de vento e disfrute da vista de Alcoutim, desde o outro lado…acabe o dia ou a tarde numa esplanada de Sanlúcar a tomar um tinto de verano  ou uma cañita de cerveja a acompanhar uma tapa e conviva com as gentes desta terra, muitas delas de descendência portuguesa ou com família do outro lado.

 

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